terça-feira, 1 de abril de 2014

PRIMEIRO DE ABRIL - DIA DA VERDADE


Hoje é dia de luto na História do Brasil. Há 50 anos, o nosso país era palco de uma tragédia já anunciada pela conjuntura política global, que implementava um terror disfarçado de ordem; buscava alienar nosso povo e destruir a soberania das nações latino-americanas, enquanto, cinicamente, alegava zelar pela segurança nacional e amor à pátria. Os meios usados - para atingir objetivos que em nada interessavam ao futuro de nosso continente - eram repressão, tortura, assassinato e medo. No dia 31 de março de 1964, acontecia o GOLPE MILITAR - cujos idealizadores preferiam chamar de "revolução". Ora, quer prova maior de covardia do que isso?

Em contraponto, o governador Miguel Arraes resistiu e se manteve firme e coerente aos compromissos que tinha com o povo pernambucano e brasileiro. Contra as armas, tinha ideias e coragem. Foi preso, exilado, considerado criminoso por defender a democracia e a justiça social.

Há tão pouco tempo retomamos nossos direitos, mas existe um dever, que não pode ser esquecido: continuar a transição democrática. Enquanto tantos foram torturados, mortos e tiveram vidas distorcidas em nome da defesa da pátria, hoje somos livres para continuar esta luta e com os nossos direitos resguardados.

Por isso, falar do Golpe Militar, explicar a todos os que tiveram o privilégio de nascer e crescer na democracia, não é banal,  ultrapassado e perda de tempo. Tudo isso é parte do processo de construção e consolidação da democracia que temos agora. 

Vim ao mundo quando a ditadura estava no final, mas cresci em um ambiente onde personagens destas conquistas - ilustres e anônimos - lembravam o que aconteceu, não com rancor, mas com a certeza de que tudo valeu a pena. Enquanto idealizavam as transformações que a sociedade precisava, sabiam que este futuro só poderia ser construído tendo nas mãos a nossa História. 

É por este motivo que não descanso para que o 31 de março não seja esquecido. Em alguns dias, completarei 30 anos de vida. Com apenas 10 anos de idade, estava junto com meu avô, Miguel Arraes, e outras lideranças que dedicaram suas vidas a uma causa muito maior do que "derrubar" a ditadura: cada um à sua maneira buscava a igualdade e a justiça social. Lembro que neste mesmo ano, Arraes voltou ao Governo de Pernambuco pela terceira vez. Em 2004, já na universidade e militante da Juventude Socialista Brasileira, do movimento estudantil da Faculdade de Direito do Recife, da UFPE, pude acompanhar o meu avô, como um dos poucos protagonistas da resistência e da luta progressista pela democracia, em diversas atividades que lembravam este episódio nefasto de nossa História.

Hoje, vereadora do Recife, eleita pela segunda vez, secretaria municipal, Arraes, meu ídolo, modelo, amigo, avô, professor, conselheiro, não está mais ao meu lado. Não pude segurar com força sua mão quando a emoção apertasse, não ouvi dele nenhuma história incrível, nem escutei alguma lição que serviria a toda a minha vida. Fui prestar minha homenagem à sua coragem, refletir sobre o momento e as grandes missões que temos. Cheguei perto do local onde, para mim, ele foi plantado e reafirmei meu compromisso em seguir com a busca pelas transformações que ele gostaria de ter visto e vivido.

Espero que em 10, 20 ou 30 anos, eu retorne ali com a certeza de que o dia primeiro de abril é o Dia da Verdade. Que as pessoas saibam o que houve nesta data, que mantenham e exerçam seu papel democrático e não permitam que nunca mais fatos assim se repitam. Sei que voltarei lá muitas vezes e, aqui dentro do meu coração, vou dizer "se já não restava dúvidas, meu avô, agora é mais que garantido: valeu a pena!".

Artigo escrito por Marília Arraes, neta de um dos maiores lutadores em prol da democracia brasileira - Miguel Arraes de Alencar - e vereadora da cidade do Recife.